sexta-feira, 30 de setembro de 2011

III Festival do Filme Etnográfico premia cinco produções em quatro categorias

Logo após a exibição dos filmes ontem (dia 29), às 21h40 foi realizada a premiação da terceira edição do Festival do Filme Etnográfico do Recife. O júri composto por Renato Athias (UFPE), Alexandre Figueiroa (Unicap), Cláudio Pereira (UFBA), Laura Graham (U. de Iowa – EUA), Renato Sztutman (USP) e Paride Bollettin (U. de Perugia – Itália) realizou a entrega de cinco prêmios em quarto categorias.

O filme de João Castello Branco, O Corte do Alfaiate (Brasil, 2009), ganhou o prêmio de Melhor Filme Etnográfico. O júri destacou a qualidade do registro, a profundidade da pesquisa e a sensibilidade no trato com os personagens durante o longa.

Na categoria de Melhor Documentário, o filme premiado foi Gisèlle Omindarewá (Brasil, 2009) de Clarice Peixoto. O júri ressaltou o engajamento da realizadora na pesquisa sobre a trajetória singular da personagem principal, que atravessou mundos diversos e se tornou uma figura central para as religiões afrobrasileiras.

Neste ano, dois filmes obtiveram Menção Especial do Júri. Em primeiro lugar, o júri destacou o filme Capa de Índio (Brasil, 2010), de Aelson Pataxó que, de modo bem humorado, reflete sobre a problemática das relações cotidianas entre turistas e Pataxó de Porto Seguro. O segundo filme foi Kotkuphi (Brasil, 2010), de Isael Maxakali . O júri apreciou o olhar interno, singular e poético que este filme lança sobre o processo de realização do ritual da mandioca, dos Maxakali de Minas Gerais.

Encerrando a noite, o prêmio de Júri Popular, categoria na qual o público vota no filme preferido, foi para Coco de improviso e a poesia solta no vento (Brasil, 2011), de Natália Lopes Wanderley.

A III edição do Festival do Filme Etnográfico é uma realização conjunta dos programas de pós- graduação em Antropologia e pós-graduação em Comunicação da UFPE. O festival conta também com parceiros internacionais como o departamento de Antropologia Visual do Goldsmith London Univesity, o FIFEQ (Canadá) e o ControSguardi da Univesidade de Perugia (Itália). Esse ano foi formado uma nova parceria com o Laboratório de Imagem e Som em Antropologia - LISA da USP. Todos os filmes premiados nesta edição irão ser exibidos em mostras promovidas pelo ControSguardi na Itália.

Este ano foram mais de 80 inscrições, sendo 18 filmes selecionados para a mostra competitiva e cerca de 50 aproveitados em mostras paralelas que ocorreram na UFPE e na Aliança Françesa. A mostra competitiva do Festival ocorreu do dia 26 a 29 deste mês no Cinema da Fundação. Segundo a comissão organizadora, o Festival vem crescendo e ganhando importância. Este ano as mostras na Fundaj tiveram um considerável aumento de público em relação aos anos passados.

Última noite do festival lota sala do cinema e arranca aplausos

A última noite do Festival do Filme Etnográfico do Recife começou cedo. Antes de abrirem as portas do Cinema da Fundação, uma grande fila já estava formada.  Como em todas as noites desta edição, a sala ficou cheia para assistir à exibição dos quatro últimos filmes da mostra competitiva e depois receber a notícia dos premiados em cada categoria.

Mbaraká – a palavra que age, primeira exibição da noite, foi muito bem recebido pelo público e conseguiu passar a sua mensagem de luta dos povos indígenas e de uma cultura baseada nos cantos e na tradição oral, tão esquecida pela sociedade contemporânea.  Ao fim, a poesia visual de Mbaraká arrancou aplausos da plateia.

Logo em seguida começou a exibição de Três Guardiões do Axé Pernambuco, primeiro pernambucano da noite, levou. O resgate da história dos principais defensores da cultura e religião afro-brasileiras foi apresentado como uma homenagem ao Pai Edu, falecido pouco depois das gravações.



O terceiro filme exibido na noite foi Kotkuphi. Produzidos pelos índios Maxakali e de um intimismo singular, somos convidados a participar da colheita, da limpeza e do preparo da mandioca, uma festa chamada yãmîyxop na aldeia deles em Minas Gerais.    

Por último, o público pôde se encantar com o universo pouco explorado do coco de improviso com o filme Coco de improviso e a poesia solta no vento. O filme de Natália Lopes Wanderly, produzido esse ano e também pernambucano, mostrou uma bela fotografia e um belo trabalho de edição. Este filme, assim como todos os outros da noite, também arrancou aplausos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Terceira noite do Festival Etnográfico traz religião, sabedoria popular e cultura de rua para as telas


A primeira parte da terceira noite do Festival do Filme Etnográfico do Recife foi dedicada às religiões e às crenças. Três filmes que abordavam tais temáticas de forma bem diferentes foram apresentados ao público em sequência. Foi os casos de A ciência encantada, Gisèle Omindarewá Peregrinos.

Primeira exibição da noite e também a mais intrigante, A ciência encantada apresentou ao público do festival os mistérios de uma crença presente no litoral sul da Paraíba e que é pouco conhecida. Com uma fusão de depoimentos, paisagens e imagens de rituais, o diretor Chico Sales conseguiu levar ao público um pouco da cosmologia e da mistura de crenças contida na "mágica" da Jurema Encantada, uma espécie de tradição que mistura cristianismo, religiões africanas, crenças indígenas e até feitiçaria para compor a "ciência encantada" que tanto falam os personagens.

O segundo filme da noite foi o longa Gisèle Omindarewá. O documentário de Clarice Peixoto nos traz a vida da francesa erradicada no país há décadas que pratica o camdoblé como mãe-de-santo. Com uma história impressionante, a própria Gisèle conta os episódios mais marcantes de sua vida e sua imensa paixão pela África e pela cultura africana. O filme também traz depoimentos interessantes das pessoas mais próximas de Gisèle; são falas dos 'filhos' do terreiro assim como dos amigos em Benin, na Africa.

O terceiro filme exibido na noite foi Peregrinos, de Adeilton Costa. O filme tem como temática a peregrinação de fiéis a cidade do Juazeiro do Norte, no Ceará. De forma a trazer à tona toda a aura da catarse religiosa, além do problema da pobreza presente na região, o filme procura retratar a vida de diversos personagens que praticam esse costume.

Toda qualidade de bicho é um curta de Angela Gomes e Cezar Moraes que expõe o artesanato por trás da cultura popular do Boi de Máscaras do litoral do Pará através da figura de Antonio dos Reis. Mais conhecido como “Mestre Dorrês”, o mestre artesão nos conta sua história e sabedoria além de revelar o drama da falta de pessoas no ramo.

Por último, Lá do leste, de Rose Satiko e Carolina Caffé, revela a realidade do maior complexo de conjuntos habitacionais populares da América Latina, o bairro de Tiradentes, no leste de São Paulo. De forma um pouco fragmentada, o filme procura relatar os problemas desse espaço através de falas de indivíduos residentes, assim como retrata a cultura de rua bastante presente. O hip hop, o rap e o graffiti misturados à religiosidade crescente montam o panorama do lugar.


Mostra Competitiva IV (29/09)


Coco do improviso e a poesia solta no vento - 25'
Direção:
Natália Lopes Wanderly/Brasil/2011

Adiel Luna, 26 anos, poeta repentista, encontra três exímios repentistas de coco: Zeca do Pandeiro, Leôncio Bernardo e Ruy Pereira. O tempo que separa suas gerações não impede a sagacidade de suas trocas de versos, nem a continuidade do brinquedo.

Confira a programação toda do festival, incluindo as mostras, oficinas e debates, clicando aqui.

Mostra Competitiva III (29/09)


Mbaraká - a palavra que age - 26'
Direção: Edgar Teodoro da Cunha/Brasil/2011

O filme aborda o universo dos cantos Kaiowá por meio dos aspectos performáticos da palavra, da sonoridade, do gesto, da dimensão onírica e de volição mobilizada pelo canto. Se a palavra pode ser história, mito e narrativa, ela sem dúvida também é poesia, e seus aspectos estéticos são parte integrante de sua eficácia dessa forma o filme parte dos aspectos poéticos da palavra Kaiowá buscando a criação de uma dimensão visual, de uma poética própria que dialogue com a palavra Kaiowá em sua pluralidade expressiva.

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Mostra Competitiva II (29/09)


Kotkuphi – 30’
Direção:
Isael Maxakali/Pajé Filmes/Brasil/2011

A colheita, o preparo do alimento, o canto e todas as demais atividades envolvidas na realização de um yãmîyxop, o ritual, em homenagem ao yãmîy "espírito") da mandioca.

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Mostra Competitiva (29/09)


Três guardiões do Axé Pernambuco – 32’
Direção: Luca Pacheco/Brasil/2010

Documentário sobre Tia Zeza, Sr.Walfrido e Pai Edu, os três representantes mais idosos do Axé de Pernambuco. Os três guardiões contam suas experiências de vida, marcadas pela espiritualidade afro–brasileira. É o último testemunho de Pai Edu, gravado poucos meses antes de sua partida. Uma homenagem da comunidade afro de Pernambuco.

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